No DF, eventos adversos pós-vacina são 0,002% do total de imunizados

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O cenário da pandemia no Distrito Federal mostra que a vacinação contra a Covid-19 é segura e os benefícios superam possíveis riscos. De acordo com o último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, até o final de novembro do ano passado, o DF aplicou mais de 4,3 milhões de doses. Nesse período, foram notificados 5.018 eventos adversos pós-vacinação. A maioria classificado como não-graves, ou seja, aqueles que se manifestam por meio de sintomas leves, como dor na região da aplicação, cansaço, dor muscular, febre, dor de cabeça, entre outros. O boletim registra apenas 77 eventos graves possivelmente associados à vacina. Isso representa, 0,002% do total de doses aplicadas. Nos leitos de internação, 90% estão ocupados por pessoas que não completaram o esquema vacinal.
Atualmente, mais de 300 mil pessoas acima de 5 anos aptas a se vacinarem ainda não iniciaram a imunização. Para a presidente da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), Flávia Bravo, parte desse número é reflexo da campanha de má informação que polui o debate sobre vacinas. Não só em relação às notícias falsas que circulam entre grupos negacionistas, mas o desencontro de informações favorecem a sensação de insegurança ao redor dos imunizantes.
“Quando você diz que a vacina não é obrigatória, isso tem um efeito em gerar insegurança. Quando exige, erradamente, que o pai assine algum papel na hora da aplicação [também gera]. Nós nunca fizemos isso antes, por que fazer agora?”, pontua. A fala da pediatra remete ao início da vacinação para o público infantil. Na época, houve discussão em torno da cobrança ou não de autorização para a aplicação. Quase um mês após o início da campanha, Flávia avalia que a cobertura vacinal desse público está abaixo do esperado. No DF, 41% das crianças de 5 a 11 anos estão vacinadas.
Anamélia Bocca, professora de imunologia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em vacinas, afirma ser necessário uma iniciativa do governo para atingir o público que ainda não se vacinou. “Uma das possibilidades é uma busca ativa a fim de saber quem são essas pessoas. É possível fazer um levantamento pelo CPFs e, a partir disso, ligar para buscarem a dose.”
As especialistas são unânimes em afirmar que o risco de evolução para um quadro grave ao contrair a Covid-19 é muito maior do que uma possível reação. “Temos uma pandemia de não vacinados. Quem mais está internado são os não vacinados. Quem morre são os não vacinados. Não precisa ser gênio para perceber como as vacinas são úteis em um contexto de uma pandemia que estava ceifando a vida de milhares”, destaca Flávia Bravo.
Segundo a especialista, além do grupo estar mais vulnerável a desenvolver uma síndrome inflamatória multissistêmica, sequelas prolongadas e até morte, a falta de vacinação também pode favorecer surgimento de novas variantes.
Reações graves
Segundo consta no boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, é considerado um evento adverso pós-vacinação qualquer ocorrência médica indesejada que ocorra no período após a aplicação do imunizante. No entanto, nem sempre esses eventos estão diretamente ligados à aplicação.
Desde o início da campanha, todos os estados monitoram e registram os eventos adversos no sistema e-SUS Notifica, do Ministério da Saúde. Os erros de imunização também são contabilizados. Após a notificação, uma equipe técnica avalia a relação de causalidade com a vacina.
No DF, cerca de 84% dos eventos notificados foram classificados como não graves após avaliação. Os dados são preliminares. O imunizante que apresentou maior incidência de notificação por número de doses foi a CoronaVac, com 177,8 notificações para cada 100 mil doses aplicadas. Já entre os casos graves, a AstraZeneca apresentou maior incidência, com 3,7 casos para cada 100 mil doses.
O médico e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Julival Ribeiro, reforça que as reações não são exclusivas das vacinas contra a Covid-19. “Mesmo as vacinas que tomamos desde sempre podem causar reação. Mesmo assim, são raros. A maioria das pessoas vai ter dor no braço, cefaleia. Isso é infinitamente menor que o estrago que a doença pode fazer”, reitera.
Vacinas não são experimentais
A professora de imunologia da UnB, Anamélia Bocca, explica que os imunizantes passam por uma série de etapas antes de serem liberados para a aplicação. A primeira delas é o desenvolvimento a partir de ensaios pré-clínicos, nos quais as vacinas são testadas in vitro e in vivo, em modelo animal. É nesse momento que os cientistas analisam se o imunizante funciona e se vai induzir algum problema mais sério.
Após concluído, os resultados do estudo são enviados para o órgão responsável pela autorização dos ensaios clínicos. No Brasil, é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária quem desempenha esse papel. Os ensaios clínicos são divididos em três fases que envolvem a aplicação em humanos.
“Nos ensaios clínicos de fase um, a gente utiliza um número pequeno de pessoas somente pensando nos efeitos colaterais e na toxicidade. Na fase dois e três, envolvem um número cada vez maior e pensando não só em toxicidade, tolerância e efeito laterais, como também na efetividade de induzir uma memória imunológica e uma proteção. A diferença do dois e para o três é que o último é multicêntrico. Ou seja, tem que ser feito em vários locais ao redor do mundo”, esclarece.
As vacinas aplicadas atualmente no país passaram por todas as etapas e tiveram a aplicação aprovada por órgãos sanitários nacionais e internacionais. Anamélia ressalta que todo esse processo faz com que a segurança dos imunizantes seja garantida.
“A gente não tem que ter medo. O que observamos é que não só para a campanha da Covid, mas para outras doenças infectocontagiosas, as vacinas reduziram a incidência dessas doenças enormemente”, reforça. “Então, as pessoas têm que estar motivadas para se vacinarem. Não só para Covid, como para qualquer outra doença que tiver a vacina disponível, porque a vacina teve melhorou a qualidade de vida de todo mundo”, finaliza.