Momento Odontologia #126: Movimento antifluoretação ganha força com as fake news

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As fake news se alastraram por todas as áreas, especialmente na área da saúde, entre elas na Odontologia que não escapa desse fenômeno mundial. No Momento Odontologia desta semana, o professor Thiago Cruvinel da Silva, do Departamento de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, conta sobre pesquisa que identificou mais de 300 notícias falsas na área odontológica e os impactos que essas informações podem causar na saúde da população, especialmente na saúde bucal.

O professor conta que ao sistematizar essas informações foi possível identificar que as fake news na área odontológica surgem, em grande parte, por interesses financeiro, psicológico e político. Entre as principais notícias falsas encontradas pelo grupo liderado por Cruvinel estão as relacionadas ao uso de agentes naturais e produtos não encontrados em farmácias e supermercados para tratar condições gengivais e periodontais; ao uso de flúor, uma vez que o movimento antifluoretação é tão forte como o antivacina. Outro tópico identificado pelos pesquisadores está relacionado à odontologia biológica, que tenta promover a não realização de procedimentos endodônticos, o popular tratamento de canal. “Essas pessoas acreditam que esse procedimento é contraindicado porque causa depressão, ansiedade e na verdade os dentes precisam ser extraídos e colocado o implante no local.”
Cruvinel alerta para o impacto dessas informações na saúde bucal, uma vez que existem até recomendações para que as pessoas que sintam dor de dente não procurem o cirurgião-dentista e façam autotratamento com produtos naturais, como chás, por exemplo. “Com isso temos um grande prejuízo em qualidade de vida, mas, principalmente, riscos que podem levar esse paciente até a morte, uma vez que existem complicações graves relacionadas a abscessos dentários. Notícias falsas em saúde não são necessariamente inócuas, são importantes e graves, pois afetam a saúde das pessoas, porque elas acreditam no que leem na mídia.
A pesquisa revelou também que essas notícias estão em todos os âmbitos da internet, como websites, blogs, principalmente nas mídias sociais, onde acontece sua maior disseminação. “Notícias falsas têm a característica da inovação da informação, as pessoas acreditam que a informação seja relevante para as pessoas do seu grupo, por isso passa a compartilhar e com isso dá credibilidade ao conteúdo.”
Por outro lado, diz Cruvinel, a informação correta e de alta qualidade promove saúde bucal. “A maioria das doenças bucais são relacionadas ao comportamento humano. A cárie, por exemplo, é uma doença relacionada a uma dieta rica em açúcares, quando você passa a informação de que a pessoa tem que consumir menos açúcar, para ter menos lesões de carie dentária, consegue empoderar a pessoa e fazer com que ela tenha resultados melhores em saúde sem depender do dentista. “A informação de qualidade é a base para que as pessoas tenham uma saúde melhor e mais adequada e ganhem autonomia no cuidado com a sua própria saúde, portanto, é importante que o profissional cirurgião-dentista tenha em mente que nenhum consumo desse tipo de conteúdo falso é inofensivo.”