Pouco mais de um ano depois, a pesquisadora e o grupo de mais de 91 participantes criaram a Vesta, máscara protetora capaz de inativar a covid-19. Assim como a N95, a Vesta pode ser usada por 15 dias, mas sem ser molhada ou lavada. A invenção está na penúltima fase do projeto, em estudo clínico com 32 profissionais da saúde do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A meta é testar com 60 participantes.
“O teste de cada profissional é de duas semanas ou oito plantões”, explica Suélia. A equipe da UnB encontrou os trabalhadores da saúde usando máscaras por muito tempo, então doará exemplares para eles ao fim do ensaio. Depois de todos os testes, o projeto entrará na etapa de certificação e regularização do produto. Suélia afirma que já está com a documentação de pedido de registro de patente preenchida e que a UnB entrará com a solicitação por meio do Nupitec (Núcleo de Propriedade Intelectual).
Nasce uma ideia
“No fim de fevereiro do ano passado, antes de a OMS (Organização Mundial da Saúde) mudar o status da disseminação da doença de epidemia para pandemia, uma grande parceira da minha caminhada como pesquisadora me ligou, a Fátima Mrué”, lembra. “Ela era secretária de Saúde de Goiânia na época e me disse: Suélia, está vindo uma pandemia e faltará EPI (Equipamento de Proteção Individual) no Brasil e você precisa pensar em alguma solução”, conta.
Dias depois, Suélia deu os primeiros passos: criou o grupo com pesquisadores, professores, fornecedores e várias pessoas que conhecia que pudessem ajudar. “Fui recrutando pessoas para ajudar a tornar a ideia real. Ciência não é feita por uma pessoa só, é feita junto”, diz. O marido de Suélia, o pesquisador Mário Fleury Rosa, ajudou a estruturar caminhos para que o resultado da pesquisa fosse aplicável à sociedade.
Com tantas cabeças pensando juntas, o grupo encontrou uma estratégia para inativar o vírus no contato com o tecido usando uma propriedade eletrostática da quitosana, polissacarídeo encontrado no exoesqueleto de crustáceos. “O tecido com as nanopartículas resultado do projeto é inserido entre outras duas camadas da máscara. Ele ficará ali, irá atrair e inativar o coronavírus, que desaparece, semelhante ao processo de quando lavamos nossas mãos”, exemplifica.
Além de bloquear a doença, a máscara apoia a agricultura familiar. “Os fornecedores são coletadores de cascas de camarão da Paraíba. Inclusive, um dos requisitos para empresas particulares que quiserem produzir nossa máscara é manter o vínculo com os coletadores”, pontua Suélia.